Tai Chi Chuan – 8 Movimentos Essenciais

“Tai Chi Chuan” é a forma aportuguesada de se pronunciar o termo que na fonética chinesa oficial (pīnyīn) é: Tài Jí Quán (太极拳). O termo pode ser traduzido como “Método Corporal do Tài Jí”, uma vez que o Quán (拳, punho) é a parte do corpo que representa a sua totalidade dentro das práticas corporais chinesas, em específico, nas artes marciais. Já o termo Tài Jí (太极), que pode ser traduzido literalmente como “extremidade suprema”, prefiro manter no original sem tradução, pois trata-se de um simbolismo para um princípio filosófico relacionado ao equilíbrio das duas forças universais: Yin e Yang.

Alunos do Centro Dao de Cultura Oriental em apresentação de Tai Chi Chuan no Ano Novo Chinês na Praça da Liberdade

Como um método de promover o equilíbrio das forças Yin e Yang (Tài Jí) dentro e fora do corpo humano através da prática física marcial (Quán), é de suma importância que o praticante aprenda as nuances do trabalho corporal dessa arte.

Dentro das formas ou sequências, encontramos pequenos conjuntos de movimentos que ganham um nome. Esses nomes podem apresentar um caráter explicativo do movimento e de sua função ou então apresentar uma simbologia que “dá o sabor” do movimento. Exemplos: movimentos como “colher e puxar” ou “virar o corpo e golpear” dizem exatamente o que se deve fazer; enquanto “chicote simples” e “abrir o leque” são maneiras de associarmos o movimento corporal a um padrão de movimento significativo dentro da nossa imaginação.

Cada grupo de movimentos ligados uns aos outros são cadenciados dentro de um ritmo coordenado onde Yin e Yang se fazem presentes na alternância do peso do corpo entre as duas pernas (cheio e vazio), na coordenação do alto com o baixo, da esquerda com a direita, entre frente e trás. O eixo que mantém a harmonia entre esses pares deve ser mantido vívido durante toda a prática – em nossa mente e no alinhamento corporal. É o princípio vertical de ligação entre Céu e Terra. O topo da cabeça se eleva em conexão com o Céu, enquanto os ajustes posturais possibilitam que a energia do alto afunde para enraizar abaixo do umbigo, ao mesmo tempo que o peso do corpo é transmitido confortavelmente de articulação em articulação até que recaia sobre os pés e se conecte com a Terra.

Todas essas características fazem do Tài Jí Quán uma prática única e refinada, de grande profundidade e que pode se relacionar com inúmeros aspectos do nosso ser – físicos, psicológicos, energéticos e espirituais.

Ao mesmo tempo que o Tài Jí Quán tem a missão de nos levar de volta à conexão com as nossas raízes por meio da naturalidade e da espontaneidade, é um método que exige dedicação e empenho. O praticante encontra inúmeros desafios que testam a sua memória, a sua coordenação, a sua capacidade de relaxar e de manter a mente conectada ao corpo. Por isso mesmo, é uma prática viva e eficaz, onde somos levados a relaxar, mas sem cairmos no comodismo. A mente se mantém ativa e o corpo se mantém vitalizado.

As formas ou sequências do Tài Jí Quán, chamadas tàolù (套路), contém em si todos os princípios da arte. No Tài Jí Quán do Mestre Pai Lin, existe uma forma longa de 108 movimentos, que mais tarde foi reduzida para 37 movimentos, sendo que desses, temos 8 movimentos principais. Enquanto a forma oficial é de 37 movimentos, elaborei a forma que treina os 8 movimentos principais para reforçar o entendimento desses movimentos, sendo executados para os dois lados.

Podemos dizer que as formas são uma condensação de toda a sabedoria e de todos os benefícios da arte. As formas são como chaves de acesso para essa dimensão “misteriosa” e o requisito é a dedicação – muita repetição, estudo e atenção. Dentro dessa perspectiva o treino de formas exige:

  1. força de vontade (志), que impulsiona a nossa energia para a prática assídua;
  2. intenção (意), onde a mente cognitiva é dirigida para o estudo e para a compreensão dos princípios;
  3. luminosidade espiritual (神明), que é o despertar que surge da integração de corpo, mente e espírito por meio do caminho (道) ao qual nos dedicamos.

Marco Moura


Segue a sequência dos 8 movimentos essenciais do Tài Jí Quán, com vídeo e descrição:

Forma dos 8 Movimentos Essenciais do Tai Chi Chuan

Abertura do Tai Ji 開太極
– Pés unidos [conscientizar-se do Ling Tai (靈台, centro da cabeça) e descer ao Yin Qiao (陰蹻, baixo ventre)]
– Abrir o passo à esquerda
– Postura de abraçar a árvore
– Palmas Yang buscam o Céu, palmas Yin buscam a Terra
– Postura dos três tesouros (abraçar o Tài Jí)
b) Manifestação do Tài Jí
– Erguer, retrair, avançar e pousar
– Alternância Yin (direita) e Yang (esquerda)
– Rolar o Tài Jí (3x)
– Segurar a bola à direita (esvaziar o pé direito, direcionar 45º e trazer o peso para ele)
– Avançar pé esquerdo (postura do arqueiro) e suspender antebraço esquerdo (aparar)

Acompanhar a cauda do pardal 攬雀尾direita e esquerda
1. Aparar (掤, péng)
2. Desviar (捋, lǚ)
3. Pressionar (挤, jǐ)
4. Empurrar (按, àn)
* Delinear com as mãos o símbolo do Tài jí

5. Colher e puxar (採, cai) – esquerda e direita
6. Colher e dobrar (挒, liè) – esquerda e direita

7. Golpe de cotovelo (肘, zhou) – direita e esquerda
8. Golpe de ombro (靠, kào) – direita e esquerda

Recolhimento do Tài Jí 合太極
– Pé esquerdo retorna à largura dos ombros e os braços abrem
– Agachar, cruzar os braços e subir o corpo
– Recolher as mãos e retornar ao Tài Jí