Meditação – perguntas básicas

Meditação é um assunto complexo, envolvendo diferentes pontos de vista a depender da tradição e da experiência particular de cada instrutor. Sugiro que não aceite nenhum apontamento como verdade absoluta, mas que procure compreender e avaliar as diferentes abordagens sobre o assunto, de modo que você desenvolva seu próprio entendimento. A seguir, algumas perguntas básicas:

  1. Meditar é não pensar?
  2. Qualquer um pode meditar?
  3. Eu preciso fazer um curso para poder meditar corretamente?
  4. Qual a diferença entre os variados tipos de meditação?

1) Meditar é não pensar?

“Esvaziar a mente” é uma ideia comumente associada à meditação. Um tanto estranha, no entanto… Como se depois de um “reset” meditativo, a mente ficasse vazia. Com a ideia de que é preciso esvaziar a mente para meditar, o iniciante percebe que os pensamentos continuam surgindo contra sua vontade. Por mais força que faça para impedir o fluxo de pensamentos, eles continuam vindo e, muitas vezes, com maior intensidade. Frustrado por não conseguir parar de pensar, simplesmente desiste.

Tentar parar a nossa mente não funciona. Afinal, um cérebro estático é um cérebro morto. Meditar não é parar a mente! A diminuição da agitação mental é uma consequência natural da meditação, não o seu objetivo. Isso quer dizer que se você ficar tentando “desagitar” a mente, só vai deixá-la mais agitada. A instrução é: deixe de lutar contra os pensamentos ou contra a agitação mental e simplesmente observe. Sim, observar atentamente sem lutar e sem perseguir nada. Relaxe… A mente vai ficando cada vez menos agitada. O pensamento ainda existe, mas pelo fato de treinarmos não reagir a ele, vai perdendo a força de nos dominar. A mente se torna calma, dotada de clareza e de uma estabilidade imperturbável.

Fácil? Nem tanto. Não pelo fato de que o procedimento seja complicado, na verdade, ele é bem simples – tão simples que se torna difícil. O método é simples, mas nossas mentes são complicadas. É apenas questão de treino. Persistência e paciência são fundamentais.

PRÁTICA → DISCIPLINA → PROGRESSO → HABILIDADE

2) Qualquer um pode meditar?

A princípio, qualquer um pode meditar, desde que não tenha nenhum problema cognitivo ou psíquico muito sério. Nesses casos, a pessoa corre o risco de confundir fantasias mentais com a realidade, perder o equilíbrio emocional e não conseguir se restabelecer ou mesmo ficar totalmente desorientada sem saber como dirigir sua atenção. De modo geral, os requisitos são força de vontade, disciplina e a correta orientação.

3) Eu preciso fazer um curso para poder meditar corretamente?

Depende. Eu diria que a meditação é uma função básica que, com dedicação, cada um poderia desenvolver por conta própria. Porém, na maior parte das vezes, precisamos de uma mãozinha. E aí está um risco.

Em primeiro lugar, fazendo por conta própria e de forma imatura, pode-se fazer uso inadequado da concentração e causar sequelas psíquicas. No entanto, isso é raro – só se a pessoa se exceder muito e fizer de um modo tão antinatural que seria até muito difícil realizá-lo. Se praticar sozinho, procure seguir um caminho natural e progressivo.

O segundo ponto é seguir uma orientação inadequada. Existe o risco de cair numa armadilha, tanto de gente que quer lucrar vendendo cursos sem consistência, quanto de instituições sectárias que oferecem uma prática cheia de dogmas. Tente perceber quando o modelo oferecido não preconiza o seu bem estar e a sua liberdade, mas tenta te fidelizar por meio de imposições e chamativos persuasivos. Um sinal básico dos manipuladores é o discurso absolutista que não abre espaço para questionamentos.

4) Qual a diferença entre os variados tipos de meditação?

Existem diferenças em relação ao contexto e tradição do método: se é embasada nos ensinamentos budistas, taoistas, cristãos, de uma organização “x”, de determinado autor, etc. Toda meditação é um método que visa levar a um objetivo específico. Por certo, há um contexto cultural ou filosófico por trás da prática indicando objetivos diferentes. Pode haver meditações embasadas na manipulação da energia interna, outras visando a sintonia com alguma divindade, certas propostas como “meditar para parar de fumar”, induzir a um padrão específico de ondas cerebrais, dentre infinitas possibilidades. Algumas coerentes, outras não.

Bem, se você quer um método não sectário, mais científico do que doutrinário, o primeiro passo pode ser verificar o seu grau de afinidade com o sistema envolvido. O que ele preconiza? Parece-lhe libertário ou institucional?

Algumas técnicas de meditação*:
* Não vivenciei a fundo cada modalidade de meditação, portanto, meus comentários são indicativos pessoais.

Meditações associadas a uma prática específica:
Temos como exemplo o Tai Chi Chuan, o Chi Kung e o Yoga. São métodos que trabalham o físico e o mental, portanto, com técnicas meditativas associadas. O embasamento filosófico do Tai Chi e do Chi Kung remete ao taoismo; já o Yoga, ao hinduísmo. Ambas são correntes de pensamento bastante coerentes.

Meditação “mindfulness”
Tradicionalmente, “mindfulness” é o termo em inglês para sati do sânscrito, em português: atenção plena. Atualmente, está bastante em alta a divulgação de “mindfulness” relacionada a um programa de redução de stress com um protocolo montado para 8 semanas. Nele, enfatiza-se a observação consciente da própria realidade, tendo como base a meditação budista vipassana, porém, sem uso da terminologia budista.

Meditação vipassana
Praticando-se os fundamentos da atenção plena (satipatthana), esta modalidade budista visa o insight ou a compreensão clara da realidade. Um dos seus principais métodos é a observação das sensações do próprio corpo. Mundialmente, o grupo de Goenka é o principal difusor da técnica, segundo sua própria ótica, em programas de retiro de 10 dias.

Meditação samatha
Visa aquietar a mente e promover o samadhi, a absorção meditativa. A serenidade é adquirida através do foco em um objeto de suporte (tal como uma imagem, som ou a respiração) ou mesmo o repouso da mente sem objeto.

Meditação na respiração
A meditação na respiração talvez seja a técnica mais utilizada em todas as tradições. Especificamente no budismo, chama-se Anapanasati. Em geral, é feita de modo natural e não controlado, podendo objetivar tanto a tranquilidade mental (samatha) quanto a visão clara (vipassana). No contexto do Yoga, a respiração controlada é utilizada no trabalho da energia interna (pranayama) e, em algumas outras modalidades, promove estados alterados de consciência.

Meditação zen
O zen budismo tem seu próprio método de meditação: o zazen. Utiliza-se também da respiração e, de modo sucinto, podemos dizer que seu objetivo é a realização do despertar do zen no aqui e agora. Seria ultrapassarmos a barreira conceitual formada através da dualidade de nossas mentes e encararmos de frente o vazio (sunyata) primordial das coisas como são independente das distorções mentais.

Meditação com mantras
Existem práticas que fazem uso de palavras em línguas antigas para sintonizar a mente em uma frequência específica. A mente vai vibrando em sintonia com o som e ativando qualidades específicas de acordo com o mantra.

Meditação hinduísta
Normalmente, segue orientações de um mestre/guru específico. Pode ter relação com a concentração profunda e estados de êxtase meditativo. Também há meditações para ativação de centros energéticos do corpo (chakras). Algumas delas envolvem o uso de mantras e mudras, segundo seu simbolismo, para ativar qualidades específicas.

Meditação taoista
Das várias modalidades taoistas de meditação, podemos encontrar treinamentos para circulação da energia vital, para ativação de centros energéticos específicos, para aquietar os pensamentos, etc.