Estilos de Taijiquan
O Taijiquan, em suas variantes tradicional e moderna, foi desenvolvido a partir de técnicas de combate. Há muitas lendas relacionadas à arte, uma vez que o Taijiquan incorpora elementos de tradições taoistas milenares fundamentadas no cultivo da energia vital. Separar lendas de fatos é algo trabalhoso dentro do universo das artes marciais chinesas.
Concentrando-nos nos registros documentados, um dos principais expoentes da arte foi Chen Wangting 陈王廷 (1600-1680), um guerreiro erudito que, após a queda da dinastia Ming e início da dinastia Qing, retirou-se da vida militar e se dedicou a implementar um novo sistema marcial unindo as técnicas de combate que herdou de seus ancestrais à sabedoria taoista referente ao cultivo da energia interna (qìgōng), teoria das forças Yin Yang e medicina chinesa. Foi ele o fundador do Taijiquan estilo Chen, que é o precursor dos demais estilos atuais.
O Taijiquan é amplamente conhecido nos dias de hoje, principalmente no seu formato moderno baseado no estilo Yang. O estilo Yang foi desenvolvido a partir do estilo Chen por Yang Luchan, um dos poucos não descendentes da família Chen a aprender o Taijiquan diretamente com Chen Changxing, um mestre da família. Yang Luchan adaptou o sistema que aprendeu, suavizando os movimentos e eliminando algumas técnicas mais explosivas, dando origem assim ao estilo Yang. Essa abordagem mais acessível e fluida contribuiu para a popularização do Taijiquan no mundo. A forma longa do Yang (103 ou 108 movimentos) tem raízes na Laojia Yilu do estilo Chen, mas foi significativamente modificada para refletir as características únicas do estilo Yang.
No vídeo à esquerda, temos o Mestre Chen Zhenglei, um sucessor do estilo Chen. À direita, o Mestre Yang Jun, herdeiro do estilo Yang. A forma executada é a Laojia Yilu, à esquerda, e a forma de 103 movimentos à direita. Podemos notar que a estrutura das duas formas é muito semelhante, apesar das características particulares de cada estilo.
Além dos estilos Chen e Yang, que são amplamente conhecidos por suas características distintas — o Chen pela sua combinação de movimentos suaves e explosivos, e o Yang pela sua fluidez e acessibilidade — existem outros três estilos principais de Taijiquan que também marcam a tradição dessa arte marcial. O estilo Wu (ou Wu/Hao), criado por Wu Yuxiang, é reconhecido por seus movimentos compactos e ênfase na internalização da energia. Já o estilo Wu (de Wu Jianquan), derivado do Yang, é marcado por posturas inclinadas e movimentos suaves, focados na suavidade e no controle. Por fim, o estilo Sun, desenvolvido por Sun Lutang, integra elementos do Xingyiquan e do Baguazhang, destacando-se por seus passos ágeis e movimentos fluidos, que enfatizam a coordenação e a harmonia entre corpo e mente. Cada estilo oferece uma abordagem única, enriquecendo a prática do Taijiquan com suas próprias técnicas e filosofias.
Outro estilo popular no Brasil, o Pai Lin, é derivado do estilo Yang com algumas nuances do estilo Chen. Ou seja, a forma Laojia Yilu também é a raiz do Tai Chi Pai Lin. O Mestre Liu Pai Lin 劉百齡 foi praticante do sistema Yang e, através da sua própria compreensão e aprofundamento nas práticas internas taoistas, compilou o método de Tai Chi Pai Lin. O Tai Chi Pai Lin é resultado da integração do estilo Yang aos elementos taoistas da escola Dao Gong Quan do Mestre Liu Pei Zhong, o que a torna uma prática das mais profundas dentro do universo do Taiji.
É importante frisar que o Taijiquan sofreu modificações ao longo do tempo. A concepção popular de “exercício para velhinhos” foge muito da proposta da arte. O Mestre Chen Wangting era um general, o próprio Mestre Pai Lin foi um general – mestres combatentes com uma sabedoria muito profunda. Por isso, a arte do Taiji visa preservar a vida, assegurar a saúde e a harmonia. Os movimentos suaves são uma parte fundamental do treino, mas não a sua totalidade. O sentido meditativo energético deve ser bem sedimentado, sem esquecermos da sua identidade marcial. Somente com a união do Yin e do Yang, a arte pode ser compreendida e praticada em sua completude.
Marco Moura