Benefícios da Meditação

Ao entendermos os efeitos de uma mente treinada em meditação, não faz muito sentido ficar sem praticar. Afinal, trata-se de uma ferramenta de conexão com o momento presente e, portanto, com o fluxo da vida. Os benefícios são inúmeros, vêm sendo atestados há milênios por grandes mestres e, atualmente, pela comunidade científica. São listados abaixo quatro grupos de motivos essenciais:

SAÚDE | FOCO | SERENIDADE | ESPIRITUALIDADE

Saúde

Beneficia tanto a saúde física quanto psíquica. Com a ativação de certos circuitos nervosos, o cérebro é remodelado, o metabolismo das células é regulado e até mesmo os genes. É o que as pesquisas científicas têm mostrado.

Basicamente, o nosso corpo é moldado pela nossa mente. A mente é o comandante. Se vivemos sob estresse mental, o corpo vai sendo sobrecarregado e se molda em correspondência à mente. Nossa postura demonstra isso, não é? Alguém constantemente enraivecido desenvolve ombros tensos, anda com o peito rígido, desenvolve problemas de pressão, etc. Alguém deprimido vai ficando com a coluna curva, o semblante desvitalizado, o sistema imunológico fraco, etc. Isso é o corpo seguindo o comando da mente.

A longo prazo, cada uma de nossas células recebe o impacto dos nossos hábitos. O nosso comportamento (nossa maneira de responder aos eventos da vida) define quais áreas do cérebro entram em operação, quais hormônios e substâncias químicas são liberadas, quais proteínas são ativadas nos genes, etc. Enfim, todo esse processamento é influenciado pela mente. Não é surpresa o alto índice de doenças psicossomáticas na população de metrópoles agitadas.

Uma mudança de hábito é fundamental. Note bem, não é que seria só “melhorzinho” para a saúde, é sim o principal fator que define se seremos saudáveis ou doentes. É importante praticarmos atividades físicas regulares, termos uma alimentação balanceada, um sono regular e, mais importante ainda, é cuidar da nossa mente. Afinal, ela gerencia isso tudo.

Se tiver interesse em investigar pesquisas científicas sobre meditação, indico que busque pelo Mind & Life Institute, pelas pesquisas do cientista Richard Davidson.

Foco

Concentração, criatividade, capacidade de aprender e até mesmo produtividade no trabalho são efeitos de uma mente hábil na atenção plena. A mente adquire uma qualidade de lucidez que, na verdade, já lhe é própria. Foi dito no passado que a mente é como um espelho brilhante que vai acumulando pó. Não é assim que nos sentimos muitas vezes no dia a dia? Ela acumula impurezas e perde clareza.

Precisamos cuidar de nossas mentes para otimizarmos seu imenso potencial. Usamos o cérebro muito menos do que somos capazes. Na verdade, desperdiçamos grande parte da nossa energia mental com bobagens, sem selecionarmos adequadamente aquilo que devemos ou não dar atenção. O cérebro precisa ser treinado adequadamente. Não somente através do raciocínio e do acúmulo de informações, mas principalmente, no sentido de estabilizá-lo e promover uma ordem interna.

Meditar com atenção plena é ver com clareza. Optamos por não seguir os pensamentos impulsivos, fazendo uma seleção inteligente daquilo que queremos focar. Se o foco é a respiração, a mente vai acompanhando o ritmo respiratório, descartando as distrações, observando este seu alvo com cada vez mais nitidez. A energia mental se torna refinada, a mente se torna mais centrada e menos confusa. Torna-se um instrumento maravilhoso para o nosso dia a dia.

Serenidade

Não é incrível poder encontrar paz em nossas vidas mesmo quando tudo parece desfavorável? Poder relaxar sem uso de nenhum entorpecente, sem fuga da realidade… Parece utópico, mas não é. Quando não esperamos que as coisas sigam nossos interesses autocentrados; quando realmente não temos essa falsa expectativa, podemos soltar nossas tensões e nos abrir para o momento presente.

Parece loucura, mas desejamos que momentos agradáveis rompam as leis existenciais e se tornem eternos, que os seres dos quais gostamos sejam imortais, que sejamos jovens para sempre; igualmente, queremos que tudo aquilo que é desagradável suma para outra dimensão. Tudo irreal, não é? A meditação é um convite para vivenciarmos o momento presente tal como ele é. Podemos sentir prazer na vida, mas não é necessário criarmos dependência e nos sentirmos miseráveis quando as coisas não seguem conforme o esperado. Também não precisamos ficar tão reativos quando algo desagradável ocorre. Tudo faz parte, tudo passa.

Meditar não é dizer OM e fingir que tudo é uma maravilha. Também não é fazer uso da imaginação para sobrepor nossa realidade com um cenário fantasioso. Por mais que isso possa causar um relaxamento momentâneo, nada disso transforma a mente. Brincar com a imaginação sem enfrentar a realidade de frente não promove mudanças significativas em nosso cérebro. É preciso ser um participante ativo da realidade aqui e agora, lidando com os sabores e dissabores da vida de forma consciente e neutra. Isso modifica o modo como pensamos e agimos no mundo – modifica quem somos.

Espiritualidade

Em certo sentido, espiritualidade tem menos a ver com dogmas religiosos e mais com a realização do sentido da vida na prática, sem seguir cegamente um roteiro pronto. A meditação faz parte do caminho da autodescoberta e da autorrealização. Sobretudo, é o caminho para descobrirmos a espiritualidade no momento presente: aqui e agora.

Se estivermos fechados no casulo do ego para a realidade além dele, nos sentiremos fragmentados e buscaremos várias formas inúteis de tapar o nosso vazio existencial. Se perdemos a conexão com o todo, nada externo pode recobrá-la. Praticando meditação, abrimos mão dos nossos pensamentos e desejos autocentrados e, com isso, nos abrimos para a nossa realidade atemporal e não-espacial, onde formamos uma unidade com o Todo. Podemos descrever essa experiência de diversas formas, dependendo da crença, mas o essencial é a vivência além das palavras.

Dentro da ótica budista, o alvo principal da meditação é a libertação do sofrimento causado pela ignorância, pela cobiça e pela raiva. Em outras palavras, temos seguido a vida buscando saciar nossos desejos e aliviar nossas aflições de forma equivocada porque vivemos em ilusão. Acreditamos na nossa individualidade como se fôssemos seres independentes, acreditamos que as nossas crenças são absolutas, que nossas ideias são soberanas, que as condições externas devam se adequar aos nossos anseios… Que seja do mEU jeito, isso é mEU, olhe para mim – EU, EU, EU. O egoismo é tão forte em nós! Ele forma uma barreira impedindo a conexão com os outros, a conexão com a vida do universo. No momento que conseguirmos definitivamente nos desvencilhar da imagem ilusória do eu, encontraremos nossa real natureza iluminada.