Características do Tai Chi Chuan
太 Tài (tai) – Grandiosidade, supremo
極 Jí (chi) – Polo, extremidade
拳 Quán (chuan) – Punho (representa o método corporal)
Tradução aproximada: Arte Marcial do Equilíbrio Supremo.
O Tàijíquán (conhecido como Tai Chi Chuan) é uma arte marcial de origem chinesa classificada como interna, ou seja, cujo objetivo principal é o trabalho da energia vital no corpo. É uma atividade que tem se expandido e ganhado fama em todo o mundo principalmente devido aos seus excelentes resultados na saúde. Desenvolve o corpo sem desgastá-lo, melhorando a coordenação motora, o equilíbrio, a consciência corporal, dentre inúmeros outros benefícios. Traz serenidade para o dia a dia, regulando o Qì (energia vital), que é a raiz da saúde do corpo e da mente.
FILOSOFIA
Esta é uma arte de comunhão com a sabedoria da natureza. Do início à conclusão de cada movimento, corpo e mente se movem em uma pulsação rítmica, suave e circular em concordância com o ritmo cósmico: yin e yang, recolhimento e expansão, descida e subida, inspiração e expiração. Integrar-se ao fluxo da vida depende do abandono das tensões físicas e resistências mentais, bem como do cultivo de uma mente sensível às sutilezas do próprio corpo.
Observando a vida na natureza, os sábios chineses perceberam que há uma harmonia dinâmica, um fluxo ordenado e natural que permeia todos os fenômenos. Os animais seguem seu instinto para a sobrevivência e reprodução, as plantas naturalmente crescem e se desenvolvem, o dia e a noite seguem-se constantemente, assim como as quatro estações. A natureza age em conformidade com as forças polares de Yin e Yang em uma equivalência recíproca. O Sol tem a sua predominância na fase Yang e ativa do dia e a lua predomina na fase Yin e passiva que é a noite. Isso é o Tai Chi, a fonte de harmonia universal que provém do Dao, o absoluto.
Os sábios perceberam que aqueles que viviam de acordo com esse ciclo alcançavam longevidade, saúde e prosperidade. Criaram então a prática do Tai Chi com o propósito de se alcançar o verdadeiro equilíbrio através da união com a energia da natureza. Isso se dá a partir de movimentos suaves, percebendo-se a dinâmica da energia e a sua manifestação no corpo. A mente permanece serena, livre de julgamento e atenta ao ritmo dos gestos. A respiração suave e profunda ajuda a acalmar a mente e a estabelecer um padrão saudável de pulsação com o corpo.
Desse modo, a prática do Tai Chi Chuan leva o homem ao estado de equilíbrio pleno “Tai Chi”. Praticando com regularidade, sua saúde é revigorada, a mente se torna menos turbulenta e mais focada.
ASPECTOS MARCIAIS
Os aspectos terapêuticos do Tai Chi Chuan renderam-lhe mundialmente grande popularidade. Por outro lado, nem todos sabem que se trata de um completo sistema de arte marcial chinesa (wushu) com toda uma fundamentação em termos de conduta ética, teoria, estratégia e técnicas de combate.
Cada movimento do Tai Chi Chuan é uma expressão de princípios marciais. Sendo parte integrante das artes marciais chinesas (wushu), é categorizado como um estilo interno de Kung Fu – que preza pelo trabalho sutil de desenvolvimento interno da energia – em contraste aos estilos externos que priorizam o condicionamento físico.
Cada movimento nasce com uma raiz bem definida, ou seja, nasce através da base estável, cintura móvel e tronco alinhado, manifestando-se por último nas mãos. Há sempre uma integração entre as mãos e as pernas, um fluxo contínuo onde o peso passa de um lado para outro conforme a movimentação das outras partes do corpo. Isso confere aos segmentos do corpo uma unidade, com plena integração entre os hemisférios direito e esquerdo, entre o alto e baixo. Os golpes nascem do centro e movimentam o corpo todo, gerando grande potência.
Todos os movimentos de ataque e defesa, de preparação e conclusão seguem um princípio energético propondo a fluidez natural. A ênfase em movimentos suaves e fluidos tem como objetivo aguçar a percepção do fluxo do Qì (energia vital) no corpo e o trabalho equilibrado das forças Yin e Yang. Em um segundo momento, também inclui movimentos rápidos e explosivos.
Filosoficamente, tanto no combate como em qualquer situação de vida, cada evento é visto como um fenômeno natural com o qual o praticante deve harmonizar-se, pois caso ofereça resistência, o embate de forças o levará à debilidade. Dentro do princípio de equilíbrio e fluidez natural, o combate marcial se baseia em um ritmo constante de fases Yin e Yang onde a força exercida pelo oponente é neutralizada através da suavidade e do centramento. Com essa atitude, as adversidades são transformadas em oportunidades. Para tal, o praticante preserva o seu centro de equilíbrio e mantém-se em um movimento de concordância com o fluxo externo.
O TAI CHI TERAPÊUTICO
O Tai Chi Chuan tem um efeito terapêutico holístico, regulando as funções do corpo, da energia vital e da mente.
O treinamento do Tai Chi Chuan é composto por diversos exercícios de Qigong (chi kung), que é um dos quatro pilares da Medicina Tradicional Chinesa (中医 Zhōng Yī). Ela engloba: 针灸 Zhēn Jiǔ – Acupuntura e Moxabustão; 推拿 Tuī Ná – Massagem chinesa;中药学 Zhōng Yào Xué – Fitoterapia; – 氣功 Qì Gōng – Exercícios terapêuticos.
O Qì Gōng 氣功 (Chi Kung) é uma antiga prática chinesa para o cultivo da energia vital. Qì se refere ao sopro vital, ou seja, à energia que permeia todo o universo, que nos nutre e nos dá vida. Gōng significa “treinamento”. Desse modo, sua tradução literal é “treinamento da energia vital”.
Segundo a filosofia taoista, de onde o Tai Chi se originou, tudo no universo é permeado pelo Qì. Através da prática do Qì Gōng, aprendemos a absorver e a circular a energia. Seu sistema de treinamento envolve movimentos e posturas aliados à respiração e à concentração. Os movimentos são em sua maioria suaves e circulares, pois o ritmo energético da natureza flui em movimentos espirais.
MEDITAÇÃO EM MOVIMENTO
Considerado uma meditação em movimento, o Tai Chi é uma excelente prática de atenção plena ao corpo, desenvolvendo calma, equilíbrio e concentração
O treino da serenidade é integrante à prática do Tai Chi Chuan. Para termos pleno domínio do corpo, é necessário aprendermos a estabilizar a mente. Um estado mental agitado faz com que achemos monótono o ritmo lento da prática, faz com que estejamos mentalmente desconectados e, desse modo, impossibilitados de perseverar no caminho do Tai Chi que visa integrar corpo e mente.
No treinamento, procuramos sensibilizar a nossa percepção em relação ao pulsar energético que existe em nós mesmos em correspondência ao pulsar existente na natureza. Como ensinam os mestres, é assim que integramos a energia pessoal à energia primordial do Céu e da Terra, cuja interação encadeia uma pulsação rítmica de alternância entre os polos universais Yin e Yang. No desenrolar dos movimentos do Tai Chi, notamos um fluxo constante onde um gesto cadencia outro gesto, cada etapa Yin precede uma Yang e vice-versa, havendo uma comunicação constante entre alto e baixo, direita e esquerda, início e conclusão. Cada movimento perceptível é a convergência de outros movimentos menos evidentes que formam um resultante. Uma pressão ou um estirão em uma ponta gera uma resposta na outra ponta, pois todo o corpo é integrado. Nada fica isolado, há interdependência do começo ao fim. Permanecemos atentos a esse processo.
A prática regular é necessária para desenvolver a sincronia plena entre corpo e mente de modo que o corpo seja uma expressão autêntica da intenção mental (yi). Uma vez alcançado esse nível, o corpo todo responde à intenção mental de modo otimizado por meio de uma expressão corporal harmônica aliada ao equilíbrio postural. Ao se relaxar conscientemente, não é preciso gastar energia raciocinando nem tensionando o corpo, apenas deixando cada movimento fluir com naturalidade.
“Através da postura de abraçar o universo, rompem-se as barreiras do espaço.
O próprio ser humano se prende numa gaiola. Ele mesmo se enjaula.
Agora, na medida em que a pessoa fica na serenidade a partir da prática,
ela sente o quanto o espaço se amplia e caem as fronteiras (mentais que o confinavam).”
Mestre Liu Pai Lin
Princípios do Qì Gōng 氣功 (Chi Kung) e TàiJíQuán 太極拳 (T’ai Chi Chuan)
Nas práticas internas do Qì Gōng e do Tài Jí Quán, há três pontos fundamentais para se potencializar os benefícios da prática:
– Corpo (postura e movimento): o corpo deve estar relaxado e alinhado para facilitar a circulação energética, de sangue e líquidos corpóreos. A língua tocando o céu da boca faz a ligação dos meridianos Vaso Concepção e Vaso Governador, circulando o Qì na órbita microcósmica.
– Respiração: o ar carrega Qì para dentro do organismo através dos pulmões e da pele. A respiração consciente e suave é fundamental para o equilíbrio do corpo energético e da mente. Para isso, a respiração deve ser feita com os músculos do diafragma, expandindo o abdômen.
– Consciência: a mente move o Qì. Uma mente dispersa e agitada não tem foco para atingir bons resultados. Somente quando está vazia e integrada à prática pode ter os efeitos desejados. O Qì está no presente e é onde a mente deve estar focada, de modo relaxado e alerta.
Sōng 松 – Relaxamento
O Qì percorre todo o corpo e flui com maior facilidade se estivermos relaxados. Dessa maneira, é fundamental nas práticas energéticas que o corpo esteja leve e livre de tensões, sem qualquer obstrução. O praticante deve estar integrado à prática, num estado de entrega para liberar e receber o Qì. Sōng é o termo usado para designar esse estado: relaxado, mas não desleixado; atento, mas não duramente concentrado. Significa unidade com o Tàijí, com movimentos soltos e naturais.
Dān Tián 丹田 – Campo do Elixir
Segundo a medicina chinesa, temos três centros energéticos capazes de armazenar grande quantidade de Qì e de transformá-lo. São os três Dān Tián (tantien): inferior (abaixo do umbigo), médio (entre o coração e o plexo solar) e superior (no cérebro, na altura da testa). O primeiro se relaciona mais à energia da Terra, o Jīng 精, o segundo à energia vital, o Qì 气 e o terceiro à energia mental, o Shén 神. Os três tesouros (sān bǎo 三宝) Jīng, Qì e Shén são estados da energia vital, da forma mais densa à mais sutil. O trabalho da alquimia espiritual consiste em sublimar essa energia, ou seja, transformar o Jīng em Qì e o Qì em Shén, dessa forma, elevando a nossa consciência.
Após as práticas energéticas, recomenda-se armazenar o Qì trabalhado no Dān Tián inferior, o principal centro vital do corpo. Para isso, o Qì é levado intencionalmente para essa região colocando-se as mãos no local. No Dān Tián inferior, os recursos de cura do Qì são direcionados para a saúde do corpo, além de manter a mente relaxada e centrada. No Dān Tián médio, há uma expansão no sentimento de amor e compaixão, deixando o indivíduo mais próximo dos demais. No Dān Tián superior, a energia trabalhada fornece maior capacidade de raciocínio, de compreensão e de concentração.