Por que treinar Kung Fu?
Nos dias atuais, por mais habilidoso que um praticante de arte marcial seja, ele se torna impotente diante de uma arma de fogo. Além disso, vivemos um momento onde a violência impera em nossa sociedade, que tem se tornado cada vez mais intolerante e agressiva. Todos estão fartos de brigas e conflitos! Qual o sentido de se praticar uma arte marcial como o Kung Fu, então? Para responder a essa questão, precisamos olhar mais a fundo para o contexto que envolve essa arte milenar.
Nenhum registro é preciso o bastante para indicar a origem do Kung Fu, embora se saiba da existência de técnicas de defesa pessoal na China datadas de mais de 3000 anos. Sabe-se também que ao ser incorporado no Templo Shaolin, o Kung Fu foi influenciado por técnicas meditativas, de mobilização da energia vital (qi gong) e de auto-disciplina praticadas pelos monges budistas do Templo. Em outras palavras, o Kung Fu tem um rico histórico cultural, uma tradição que atravessa dinastias e tem muito de sua filosofia preservada até hoje.
Das centenas de estilos desenvolvidos dentro do Kung Fu, muitos se perderam no tempo, mas muitos sobreviveram devido ao compromisso assumido pelos descendentes em honrar suas gerações passadas, preservando a arte como um patrimônio precioso. Felizmente, muitos desses mestres se dispuseram a ensinar a sua arte fora da China. É o caso da Grã-Mestra Lily Lau que, em memória ao seu pai, o lendário Grão-Mestre Lau Fat Mang, assumiu o compromisso de manter viva a linhagem do estilo que representa, o Ying Jau Fan Zi Moun (Garra de Águia). No Brasil, a Escola Arte Nobre é uma das responsáveis por preservar o estilo conforme transmitido pela Mestra Lily Lau.
As técnicas originais do Garra de Águia foram resgatadas com muito empenho pela Mestra Lily Lau, bem como toda a bagagem de ensinamentos filosóficos do estilo e o código de ética (“Wu De” 武德) enfatizado por essa tradição. Um dos princípios preconizados pela Mestra é que o Kung Fu deve elevar o caráter do ser humano – ao invés de criar inimizades, “use a arte marcial para fortalecer os laços de amizade”.
O Kung Fu, portanto, prepara o praticante para ser um cidadão ético e que preza pela harmonia. A vigorosa disciplina física e mental o direciona para ter um corpo saudável, forte e flexível, uma mente centrada, boa coordenação, destreza e habilidades marciais bastante eficientes, seja através dos punhos vazios ou no uso de armas tradicionais chinesas. Ser um praticante sincero de um estilo de Kung Fu legítimo é ser permeado pelo poder de uma tradição viva e pelas bênçãos dos mestres ancestrais.
Marco Moura
Professor de Kung Fu do Centro Dao de Cultura Oriental